terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Neocarnavalesco O Brasil Do Renascimento

























o antIgo gado peneira
a boa Oração oracular:
sou pai Ardoroso
e purificadoR.
pertenço aO dínamo
arquetípiCo do medo.
a fossA olímpica
dona Deusa e Eu
limpaMos,
com abOrígene sabedoria.
a cabeça Artística
femininA
o metro Articula
à regionAl errática
abóboda cEleste
brasileira.
o amo a paIxão
por LampiÃo e maria bonita
reinventa.
o arquétipO
a caetano e Glauber
ampliou a vIsão do abismo.
o catolicisMo ordem
ao abismo Deu.
a reliGião apega-se
agorA
a um ardor
a essA
eterna bahia
cativAnte
que sÃo Paulo
não dOmesticou.
abre-sE um templo
à dançA dos deuses
que Nietzsche via
e que a canToria cabocla sempre
viu no iNfinito.


Poema: Marcus Minuzzi
Fotos: Sílvia Goulart e Marcus Minuzzi





segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A Reunião De Símbolos


O novo homem restabelece o mito de uma nação cabocla, onde a favela ordena o perdão ao poder masculino atroz, por meio do alegre e sensual encantamento feminino.

a eNcantada reuniãO de símBolos
aliMenta o bRasil

Pinturas: Sílvia Goulart e Tomás Goulart Minuzzi
Texto e foto: Marcus Minuzzi

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A Seara


Trago comigo a
Lembrança de
Quando pintava
A nua fonte.
No último galho
Da copa da árvore
Frondosa
Era como se o
Vento guiasse
Meus dedos sujos
De tinta.
O olhar fixava
Um ponto.
O Grande ordenava
Os trabalhadores da
Vinha.
O sol, a chuva, tudo
Era graça.
Tudo era colheita,
Tudo era Obra.
E eu, pintando
Serenamente.
O compromisso com a
Seara que me carregava,
O balanço soturno.




O nariz pro céu,
E a cabeça nova,
Em pura onda magnética.
Éramos soldados.
Somos a esfera
Planetária.
Estamos de volta.
Vamos começar
A semeia.

Poema e pinturas: Sílvia Goulart
Fotos: Marcus Minuzzi

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A Ritualidade Ovariana



O astro fecundante me tocou o sexo.
Estou a gerar a nova forma ovariana.
Estou noiva do rei.
Vou parir serena.
Sou filha de mamãe,
Santa sem manto,
Rapariga.
Benze minha flor,
Unta meu colo,
Livra meu calvário.
Sou meninazinha ainda tenra.
Sonho com teus belos cachos,
Adornos em minha vulva.


Pintura e poema: Sílvia Goulart

sábado, 3 de novembro de 2012

A Lenta Religação



Gosto de perder, a luta perdida
Me põe bom.
Busco e perco especialmente os salários.
Sou um solitário.
O solitário andou muito,
Feliz, sozinho,
Porque escolhe caminhos
Inviáveis à multidão.
Todo rei
É um inviável,
Mas pode ser tocado
Num violão.
Nasce enquanto memória
Do nunca visto.
Sou um tocador de mim mesmo,
Anunciando meu próprio saber-se rei.
Sou aliançado com
Uma valentia desbravadora
De territórios oníricos,
Lógicos e menstruais.
Onírico porque minto
O tempo inteiro
A mim
Mesmo sobre meu
Alvorecer
Enquanto rei.
Lógico porque vejo
E desconfio.
Finalmente,
Menstrual
Porque creio que
Meu erótico mistério profundo
Larga visões
Doces de mãe.
Adiro a uma parede de útero
E ali fico,
Sorrindo e saciando
Meu desejo por afeto.
Depois, o útero escama
E sai
A verdade em cor de sangue,
O sangue visto como desejo de mais vida.
Liberto uma vegetação
Quando penso nisso.
Posso, como estrela sossegada,
Sem obrigatoriedade de brilho,
Repousar.
Ao lado corre um rio-tempo,
Totalmente amoroso.
Lavo nele meu pomo,
Outrora poderoso.
Que face robusta, no espelho.
Pai e pátria sempre se confundiram.
Laçam-me
E pouco reluto.
Meu desejo de calar a mulher,
Como faz meus mais brutos anseios,
Não resiste.
Lavo-me também numa fonte inspiradora,
Liberando-me do ódio vinculado
À exposição da mulher,
Do nu de seu corpo.
A mulher exposta cobre meu pensamento,
Porém veste-me com a fantasia que lhe é própria.
Vejo como gostaria que eu apenas protegesse
A casa.




Pintura: Sílvia Goulart
Poema e foto: Marcus Minuzzi

terça-feira, 30 de outubro de 2012

A lembrança do novo homem de Gabriela


Fartos medos agrestes perdem sua força através do processo de domesticação do masculino. A elegia a um novo homem renovou-se com a regravação da novela Gabriela, inspirada na profética obra de Jorge Amado. O mito de uma nação cabocla, onde a favela ordena o perdão ao poder masculino atroz, por meio do alegre e sensual encantamento feminino, pode se restabelecer. A nova microssérie da Globo, Suburbia, que aproveita a mesma faixa de horário de Gabriela, a partir desta quinta-feira, alimenta-se do mesmo mito. A feiura de nossa miséria social é uma imposição fálica: o eterno coronelismo regionalista brasileiro ama recriar-se e mesmo passar despercebido.

O otimismo deve vir do medo do arquétipo feminino, tão complexo quanto o processo de consolidação da democracia no Brasil. Aquilo que o feminino oferece enquanto conhecimento nupcial amazônico: uma promessa belamente indígena de harmonização entre mulher e homem, civilização e natureza, ecologia e produção capitalista. O fim do mundo ritualiza-se com a persistência endemoniada do homem perigosamente próximo ao tesouro amazônico. A profecia de Antônio Conselheiro permanece e o mar virará sertão.

Nada no Brasil é óbvio e se torna cada vez mais ausente a regência de grandes maestros a controlar a força homérica que aqui se expressa, no sentido de uma recriação da própria humanidade (como foi o Renascimento, na Europa). A herança musical de Villa-Lobos foi assumida por Tom Jobim. Glauber Rocha soube inventar a si mesmo, assim como Luiz Gonzaga. O feminino arquetipicamente alimenta o sonho de ser brasileiro através do forte reinado de tais gênios.

A errática democratização do país produziu a ditadura militar, intrinsecamente vinculada ao período de ouro da música brasileira. Segundo Nietzsche, a linguagem musical é a única capaz de expressar a dolorosa verdade do princípio de tudo, o "um primordial". O Brasil corrupto, cansado de si mesmo, é fruto da mesma obscura força masculina. No último final de semana, em que se reuniram forças da música brasileira em Goiás (como Milton Nascimento, Criolo, Velha Guarda da Portela), no festival Canto da Primavera, renovou-se certamente a esperança de que o mito da mãe universal, aqui plantado por Cora Coralina, represente a aceitação do perdão à mulher e o início de uma nova presença musical cabocla, articulando indefinidamente, como viu Antônio Conselheiro, mar e sertão, e fortalecendo a visão nietzscheana e coralina de que a poesia é o único antídoto contra a desilusão frente a violência do ser humano e dos deuses que nos perpetuam enquanto espécie.

Marcus Minuzzi

terça-feira, 9 de outubro de 2012

A Regionalidade Humana


Para Sílvia

Moça regionalista amarelo-escura:
Tua pata estranha me acaricia.
Negra úmida, a desvirginar.
Ergo pote de barro,
O americano pai de Gonzaga,
Folião recuperado do meretrício.
Arte benta do Santo Padre,
Negro e Indígena,
Tocador da boiada frondosa alegoria
Da bondade da moça crística
E arruaceira.

Poema e foto: Marcus Minuzzi

domingo, 7 de outubro de 2012

A Marginal Poeta Do Feio Córrego Botafogo


Ora, vá me transportar para o outro lado. A minha onda inspiradora está do outro lado da margem. A questão, a dúvida, é feminina e real. Ora, vá buscar as filhas da pátria. Vá!

Vá buscar as mais perfeitas, as danças de rabo de olho, com radar; de preferência, as trochas.

A minha onda é tropical e amazônica. Vejo frestas em seus vestidos, vejo ondas de força angelical. O manso carneirinho sopra seus ventos e busca a cor do araçá.






Ritualização Artística A Mando da Feminina Onda Indígena.
Coletivo de Arte A Negra Ama Jesus.
Poema: Sílvia Goulart.
Imagens e voz: Marcus Minuzzi.
Goiânia, GO. 07 out. 2012.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A Bahia Que A Negra Ama Aproxima Do Sertão Caipira




O Alento de Amar
O Poço Litúrgico
E Ser O Negro Índio
Americano.
A Erê Menina Cirandeira
Pendura Brincos
Enquanto A Brasileira Rua
Ternamente Pare
O Deus Ex-Demônio.
A Bahia Que A Negra Ama
Aproxima Do Sertão Caipira,
O Voo Elétrico e Cego
Por Um Novo Carnaval.

POema e fOto: Marcus Minuzzi; pinturas: Sílvia Goulart

A Arquetípica Lógica Da Moça:
Refazenda Litúrgica Brasileira

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O Arco Errático Do Tempo

Arte Ritualizadora Da Fonte Criadora Infinita.
Música Incidental: "Acalanto", de Chico Buarque.
Goiânia-GO, 01 out. 2012.


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A Arte Contemporânea de Cora Coralina

Liturgia Amorosa de Corte À Rockalização dos Legados de Chico Buarque, Fernando Pessoa, Milton Nascimento, Carlos Drummond de Andrade e da Menina Revolucionária da Casa da Ponte.

Coletivo de Arte A Negra Ama Jesus: Ritualização Ornadora Dionisíaca.
Goiânia-GO, 26 set. 2012.



domingo, 23 de setembro de 2012

O Bento Mar


Me findo,
Indo, pé ante pé.
Fico oculta,
Entre frestas.
Procuro andar
De pé.
Estou sutil.
Entre estrelas
E libélulas,
Perfuro o espaço
Extremo do Universo.
O que ainda
Não encontrei,
Há de estar
Logo ali.
Espero amar.
Sou um pequeno
Querubim.
Perfumo os
Sóis.
Sou azul,
O bento mar.

Poema e pintura: Sílvia Goulart
Foto: Marcus Minuzzi

terça-feira, 18 de setembro de 2012

A Geração Eterna De Marias


A onda caligrafista afaga teu músico.
Camões te inunda,
Porque és bela e ordenhada musa.
Poderá ele te mostrar
A forma não bruta,
Mesma serena homenagem à flor.
O rosário rende teu apogeu
Entre míticos reis destinados ao segredo.
Bate-se à porta do segredo.
Teu marido põe em tua mão
Um ascendente alimento.
O forte poço de liturgias,
A generalidade goiana.
Ouros macios e mesclados,
Morta a ingratidão.
Há no livro de Cora
Uma negra vazão olímpica.
A moça chora com tua finura
Terços por Maria.
Reza e chora e geração
Eterna de Marias.

Poema e foto: Marcus Minuzzi
Pinturas: Sílvia Goulart

segunda-feira, 16 de julho de 2012

A nova literatura do país



A arte carrega o charme masculino para o novo tempo do sexo brando e ardentemente feminino, reforçando o laço com a literatura de um novo país.

Texto e foto: Marcus Minuzzi
Pintura em camiseta: Sílvia Goulart

domingo, 15 de julho de 2012

Moderno mito remanescente



Menino meu, mar, montanha.
Moderno mito remanescente,
Morto em sua beatitude, revés,
Oriente próximo,
Possível,
Que recebeu do mar salgado
As destrezas,
A menor indolência, as cicatrizes.

Olho o mérito de teus livros.
Misturo-me a eles feito cobra.
Orgasmos cívicos.
Esta nação se faz de beijos
E de um glosar-se rumoroso,
Homérico.
Nosso mantra é amar-se
Em mitos não importa
Se originais ou redivivos.
A alegria fugaz dos livros
Reabastecemos com música.
A rádio-canção nos entoa,
Nos apruma.
Há foguetórios,
E o pandeiro redoura,
Menos lógico,
As certezas.
Pandeirito, como brilhas
Nas mãos de meninos.
Nenhum deles perturbará
Bons ventos,
Beiras de pias.
Menos ainda temerá navegar
Mulher adentro,
Sem mãos de esquecimento,
Mas com
Pedais de filosofia.


Poema e foto: Marcus Minuzzi
Pintura: Sílvia Goulart

sábado, 14 de julho de 2012

A pirâmide



A quem declaro-me soberana?
Estou entre céus e terra,
Ampliando o horizonte feminino.
Aquilo que está oculto
Ensina o enigma da mulher.
É preciso ser soberana
E sábia pastora.
Estou entre damas, espadas
E punhais.
Alcanço o ponto mais alto
Da nobre pirâmide.
Digam amém.


(Em homenagem ao aniversário de 58 anos da morte de Frida Kahlo, ocorrida em 13 de julho de 1954)


Poema e pintura: Sílvia Goulart
Foto: Marcus Minuzzi

domingo, 10 de junho de 2012

As borboletas




Suntuosas e saltitantes
Borboletas beijoqueiras
Fêmeas paqueradeiras
Ideias múltiplas
Alheias
Invadem
Entorpecem
E exalam
Das telas
De Sílvia Goulart

Útero maior
Abrigo
De dores e alegrias
Que derramam
Do altar
Ligando o sagrado à família
No tom da nobreza maior
Da fêmea santa aracnídea

Poema de Adélia Freitas da Silva em homenagem a Sílvia Goulart. Redigido durante o Sarau d'A Negra Ama Jesus, em 9 jun. 2012.

Foto recriando o videoclipe "Cora Coralina is alive" durante o Sarau d'A Negra. Produção: Marcus, Cazé e Vinícius.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Refaço a brasileira liturgia




Erro ferozmente
Até possuir
A poesia renovada.
Há o maio
Americano e amoroso.
A vida é a bênção mariana.
Refaço a brasileira liturgia.
A errática arte ritualística
Pertence à rica meretriz
Do mundo.

Poema: Marcus Minuzzi


quinta-feira, 24 de maio de 2012

O ouro do coração do Brasil



Uma onda brasileira
E cabocla
Toma o céu de Goiás.
Há cavalos ensandecidos
De dentes fortes
E soldados a guerrear
Pela herança Anhanguera.
O diabo agora é novo.
Não engana mais.
Antes, roda.
Dança catira
E maracatu.
O sertanejo é seu
Ouro.
As lavadeiras do
Rio Vermelho são
Moças bonitas
Bem letradas,
Ávidas por seus
Príncipes,
Cavaleiros da
Vanguarda tropical.
A cadência de seus
Tambores faz romper
E fluir o ouro do
Coração do Brasil.



Poema e pintura: Sílvia Goulart
Fotos: Marcus Minuzzi

domingo, 13 de maio de 2012

Cora Coralina is alive




A Negra Ama Jesus homenageia o materno coração coralino por intermédio da escrita pictórica de Sílvia Goulart, que recita poema próprio lembrando que a rua nova de Goiás tem escrito em intervenções que Cora Coralina está viva.




O amor antigo da Deusa arde por ritualizações como a deste vídeo.




sábado, 21 de abril de 2012

A loa para Milani


Hoje eu vi Oxum
Com seu tambor
Descompassado,
Encantando o
Terreiro.
Avistei sua luz
De Nega, fiel
Escudeira.
Seu reinado sufoca
O meu medo
De não ter quem
Me siga.
Libera, ó preta,
Esta moça que te cobre,
Esta força que te
Compõe,
Oxum guerreira.

Poema e pintura: Sílvia Goulart
Foto: Marcus Minuzzi

domingo, 15 de abril de 2012

A onda pensadora feminina


Sábia passarinha,
Onde vais com tuas graças?
A coroa, onda vaporosa e úmida
Que te cobre,
Lembra o Olimpo de prata,
Onda sonora.
Há música em teus ramos.
Iluminas a perfeição
Com teu vento.
Multiplicas versos.
A sabedoria poética
Que te cabe
Floresce e brota em tua
Copa.
Ó árvore nua,
Feminina andorinha,
Gentileza sábia de
Meu Deus.
Causa contida,
Teus cocares,
Tuas contas
Espalhadas,
Bicos maternos,
Anseios de mãe.
Floresta antiga.
Mata virgem.
És a amazônica porção
Do Brasil.
És ave bendita,
O que transforma
Tudo.
És o que não sabes,
Nem procuras ser.
Traço escolhido em sonhos.
Tua face espelha o logos
De Maria.
Ovários perdidos em teu
Cérebro governam o mundo.
Ó incessante busca de liberdade.
A mulher carrega a flor,
Nem anjo, nem bruta.
Quando pariu,
Nem sabia da dor.
Há uma estrela em teu olhar,
Seiva que molha teus filhos.
Benta rosa escolhida,
Ocultas o segredo
Maior.
A mulher não cabe
No espaço.
Espalha, ramifica,
Cresce e ordena.
Submete-se,
Dissimulada,
Envolve e
Mata.


Poema e pintura: Sílvia Goulart
Foto: Marcus Minuzzi

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Alforria


Estou amando
Essa mulher
Como amo o rito
Do samba.
Há um prazer muito
Íntimo,
Uma sonhadora
Admirável
Que me orna
De alforria
Discreta,
Mas inabalável.
Tenho
Um pai jurado,
Fortalecido
No Olimpo brasileiro.
Amo esse medo
Que me proporciona
O samba,
De tecer
E tornar a tecer
A realeza
Que foi minha,
De eu menino.


Meu mito não é o de um ser
Facilmente amoroso.
A menina que há
Tanto tempo
Anda comigo,
Sabe.
O Brasil
É respiração
Dionisíaca
Que poderosamente
Encanta
Com seu fogo
Amável, alto,
Puro
E sincero,
Artifício
Inteligente
Da
Eternidade feminina.


Esse
Quadro
Mesmo,
O mais
Recente
Que Sílvia
Pintou,
Agora
À minha
Frente,
Fornece
A
Amorosa
Visão
Do
Rito
Ovariano.



A negra
Irmandade
Não
Quer
Para si nenhuma
Ponta de reconhecimento.
Amamenta
O terno boi
Brasileiro
Com a literatura
Mole
Do reino úmido
Que,
Em Goiás,
Gerou Cora Coralina.
Ponho meu
Ouvido,
Sílvia Cristina,
Em teu
Bico de seio,
E Pernambuco
Se põe em posição
De uma força
Materna glosadora
Do novo mudo.


Oro à mãe
Por teus poemas,
Pés de fruta,
Amante que sou
Do livro
Eterno
Rico
E
Formoso.
Limo
A pobreza
Que amei
Um dia
E que
Representou
O andrajo
Do poeta
Solitário.
Há boninas
Perfumadas
Sobre o monte
Da Vila Rica.




Poema e fotos: Marcus Minuzzi
Pintura: Sílvia Goulart

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O abismo




Se a conspiração divina me desse apenas um dedo para riscar o chão, seria como se eu pudesse construir uma ponte.

Poderia cruzar o abismo sem tocar os pés no chão.

Também poderia encenar um monge budista, um sultão ou usar o turbante indiano. Piscar com os olhos de dama.

Atravessar a floresta como o passeio de uma borboleta amarela. Cipó amarrado no braço. Uma esteira de bambu.

Eu queria ser a flor que nasce das crassuláceas. Imitar o cheiro do amaricá na beira dos rios.

Mas ainda falta um pedaço de abismo.

A virgem me guia com a ajuda de um anjo rico. Há uma pedra em sua fonte.

E eu, esta flor a coroar seu riso, tento voar com pés de brisa.



Poema e pintura: Dona Deusa Sílvia Goulart
Foto e declaração: Marcus Minuzzi

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A guerra florida




Em minha cabeça florida
Verdejam ramos de ancestralidade
Africana, indígena, francesa...
Ah! Que quase miscigenado
Perfil de guerreira.
Minha cabeça florida
Carrega as dores do mundo.
Carrego um pentagrama,
Borboletas amarelas
E sonhos.
É preciso guerrear
Com meus cegos.
Meus olhos não
Vêem o que está
Na escritura, nem
Podem saber qual
É o limite desta pátria.
Escavações abrigo
Em minha cabeça
De mãe.
Sou cinderela em
Sonho nordestino.
Meu suspiro por
Lampião
Afasta o medo
Da morte.
Ainda serei plantada
Como árvore no sertão.
Meu nome será escrito
No livro das bênçãos.
Uma dama, certamente.
Uma pitonisa
Com sua copa
Em flores e vistosas
Asas apontando para
O céu.
Meu sereno balanço
Há de ocupar o
Vento.
Ainda como criança
Irei brincar.


Poema e pintura:
Sílvia Goulart
Foto: Marcus Minuzzi

sábado, 11 de fevereiro de 2012

A rósea dor

Ele ama pensar
Em ordenações
Crísticas
E no poder
De Milton Nascimento.
Homem amamento,
O rio onírico,
A pedagogia
De um novo Olimpo.


Poema: Marcus Minuzzi


quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A boa casa

Senhor,
Mãos de ferro

Eu
Vi

Quebradas
Pelo

Querido
Abraço.




Poema (trecho) e foto: Marcus Minuzzi
Pintura: Sílvia Goulart

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A amorosa educação que Cora Coralina e Paulo Freire ensinam


O povo que brinca amplia a lembrança do paraíso. Bom para o país é possuirmos uma identidade associada a ritos que corporificam a sabedoria do brincar como o carnaval e o futebol. Enquanto professor, sinto sempre a necessidade de ritualizar em sala de aula esta mesma sabedoria.

O rito repercute a liberdade como força arquetípica. A noção de arquétipo, quando formulada pelo psicanalista suíço Carl Gustav Jung, refere-se a um nível mais elementar da psique coletiva humana que, em resposta ao instinto de sobrevivência, produz imagens de grande poder simbólico, capazes de determinar o rumo de culturas inteiras.

O poeta que sofre dessa influência libertadora – a influência do sonho da liberdade enquanto arquétipo - paradoxalmente sofre com sua própria falta de liberdade.

Lendo recentemente “Cora Coralina – o mito de Aninha”, do professor Saturnino Pesquero Ramón, pensei em tomar de empréstimo alguns aspectos de sua obra para refletir sobre como o Brasil revelou para o mundo o pensamento educacional de Paulo Freire.






A promessa de libertação encarnada na proposta pedagógica de Freire tragicamente foi abortada pela ditadura militar implantada no Brasil em 31 de março de 1964. O método de alfabetização de adultos criado pelo educador havia poucos meses começara a ser adotado como política pública através do Plano Nacional de Alfabetização, do governo João Goulart.

Nele, a fórmula de uma docência que respeitava os saberes do povo e que com eles queria aprender ritualizava uma profundo significado humanizador.

A fonte mítica perde-se no tempo, mas permanece fornecendo o texto a partir do qual se encena a realidade, como diria o antropólogo Roberto DaMatta. A própria realidade então pode ser lida como um processo ritualístico. A força que o mito possui faz a poesia profetizar o futuro com todas as consequências que disso podem ser resultantes.

A poesia de Cora Coralina arquetipicamente orienta-se por uma arte de amar sem limites. Ramón lembra, com base em pensadores como Heidegger e Jung, que “o poeta, sinônimo do ser criativo em geral, é um simples veículo da obra, que tem (a obra) autonomia e vida própria”.

Como conseqüência disso, a poesia manifesta-se como “uma força da natureza”, “que urge e se impõe (...) sem se incomodar com o bem-estar pessoal do ser humano que é o veículo da criativiadade”.

Como diz Ramón, a “gesta coralina”, ou seja, sua arte de viver a fim de que se concretizasse seu mito (o mito da grande mãe universal), arquetipifica a realidade fantasiando-a em favor da amorosidade de que tanto Paulo Freire falou.









A arte que Cora Coralina legou ao mundo foi mais do que seus versos. Foi a memória amorosa de longa ritualização do sofrimento feminino.

A renúncia materna é um tema constante no teatro representado pela sociedade. Mães alimentam o arquétipo original dionisíaco - Dionísio, a divindade grega do prazer, da sensualidade e da embriaguez - amando o prazer sublimado pela dolorosa missão da renúncia existencial.

Os quase 50 anos que Cora esperou para retomar seu projeto literário, desde o início de seu casamento até sua viuvez, dramatizaram sua emocionante entrega à memória da materna condição da espera.

A dionisíaca amorosidade ardentemente plantou uma árvore no coração do Cerrado: a vida inteira de Cora e sua forma poética, forte por sua lírica brasilidade de aceitar a pedra que alimenta o medo da morte.

O apaixonante segredo que o mangue nos conta arde, por sua vez, na boniteza da amorosidade freireana. O mangue, como repositório do que apodrece, enaltece o brasileiro tenaz.






Na geografia da cidade do Recife, de onde Paulo Freire partiu para o mundo, sua importância é poeticamente reveladora: como os monturos fumegantes da Vila Boa de Cora, o mangue produz o amor pelo artístico destino do povo. O caranguejo, animal do mangue, alimenta-se de restos e viceja, como as boninas que cobrem os monturos da Vila Boa.

Ler na vida da poeta e do educador tais significados artisticamente revela o manso marulhar do mito brasileiro.

A leitura mítica que pode-se fazer da realidade instaura um modo de vivenciar o tempo chamado pelo antropólogo Claude Lévi-Strauss de totêmico. Nele, a linearidade anula-se em favor da circularidade.

A lembrança que articula o presente ao passado amorosamente promove uma aliança entre a arcada mítica de um povo e seu ponto atual de vida no fluxo do tempo. O medo da diferença regula a vontade que o ser humano possui de viver com outros seres humanos. Logos e mito alimentam-se mutuamente.

Paulo Freire põe ênfase no amor da prática docente – um amor pelo conhecimento do outro. A freireana apologia à educação amorosa alimenta-se do arco mítico que ritualiza na realidade vivida o tempo eterno dos valores universais.

“É nesta experiência do ritual coletivo que tomamos consciência de uma outra realidade tão fundamental quanto o indivíduo: a realidade da sociedade em que vivemos com suas fronteiras, limites, regras e, por causa disso mesmo, com a capacidade de nos unir uns com os outros na vivência coletiva dos ideais comuns”, ensina Roberto Da Matta.

A amorosidade freireana, a partir deste entendimento, orienta o fazer pedagógico a partir de uma verdade totêmica, em que o medo da diferença alia-se à necessidade de união.

A fonte que fornece a morte à vida e a vida à morte epicamente nos constrói. A revolução educacional proposta por Paulo Freire avizinha-se com a reconfiguração da ordem mundial que coloca o Brasil como país fortalecido e erguendo-se em meio à descrença nos valores (essencialmente lúdicos) de seu povo.








O fio que tece a narrativa de um país ardorosamente significando a porta de entrada no paraíso terrestre arranja a arte e a poesia. É a força do mito que fornece a magia necessária à amorosidade coralina e freireana.

Ramón recupera o conto “Os meninos verdes”, de Cora Coralina, para amorosamente aprofundar o estudo sobre o mito do amor materno universal vivido pela poeta. O conto narra um determinado “acontecido”, que Cora assevera ser verdade: sete anõezinhos verdes são encontrados ao pé de duas “plantas estranhas” que haviam brotado espontaneamente no quintal da casa velha da ponte.

Ramón relaciona os anõezinhos (“seres vivos – com todas as formas de crianças em miniatura”) com os filhos de Cora, que também foram sete (seis biológicos e um adotado). Foram, os filhos e filhas da poeta, o destino forçando a ritualização do mito.

Os meninos verdes provêm do fundo da terra, com seus prantos por proteção. É a alma da terra que chora, em seu “repouso nos universos imaginados pelo devaneio”, como diz o filósofo Gaston Bachelard.










A fealdade do povo brasileiro provém de sua pobreza e ignorância. O medo de amar torna esse povo forte em sua aspiração pela beleza. A amorosidade materna que permitiu o simbolismo do conto de Cora Coralina é a mesma da pedagogia de Paulo Freire.

A força totêmica de uma grande mãe confunde-se com o Brasil. A bondade alimenta-se de uma artística missão: amar o povo a partir da união com a natureza põe-nos em contato com o reino poético das formas a descobrir.


Nossa pedagogia vacilante, que tanto reluta para assumir o legado freireano, precisa também retirar da terra seus meninos verdes e fazê-los ressignificar a educação.




A mãe doce de oração frondosa


Quando brinca de
Ser o sábio
Que ama o amor,
Voa e, inquieto, sonha
Com o reinado.
Entre a pedagogia de
Ideias
E novas teorias
Revolucionárias
E curadoras,
Cria seu teto
Luminoso e flutuante.
Há um desejo
Incontido de arte
E saber em seu
Homem formador.
Há um sincrético
Modo de educar.
Há um Brasil
Em sonho
De ginga e carnaval.






Artigo: Marcus Minuzzi
Poema e pinturas: Sílvia Goulart
Fotos: Marcus Minuzzi, Tomás Goulart Minuzzi e Google

A conta coletora coletiva