terça-feira, 13 de novembro de 2012

A Seara


Trago comigo a
Lembrança de
Quando pintava
A nua fonte.
No último galho
Da copa da árvore
Frondosa
Era como se o
Vento guiasse
Meus dedos sujos
De tinta.
O olhar fixava
Um ponto.
O Grande ordenava
Os trabalhadores da
Vinha.
O sol, a chuva, tudo
Era graça.
Tudo era colheita,
Tudo era Obra.
E eu, pintando
Serenamente.
O compromisso com a
Seara que me carregava,
O balanço soturno.




O nariz pro céu,
E a cabeça nova,
Em pura onda magnética.
Éramos soldados.
Somos a esfera
Planetária.
Estamos de volta.
Vamos começar
A semeia.

Poema e pinturas: Sílvia Goulart
Fotos: Marcus Minuzzi

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A Ritualidade Ovariana



O astro fecundante me tocou o sexo.
Estou a gerar a nova forma ovariana.
Estou noiva do rei.
Vou parir serena.
Sou filha de mamãe,
Santa sem manto,
Rapariga.
Benze minha flor,
Unta meu colo,
Livra meu calvário.
Sou meninazinha ainda tenra.
Sonho com teus belos cachos,
Adornos em minha vulva.


Pintura e poema: Sílvia Goulart

sábado, 3 de novembro de 2012

A Lenta Religação



Gosto de perder, a luta perdida
Me põe bom.
Busco e perco especialmente os salários.
Sou um solitário.
O solitário andou muito,
Feliz, sozinho,
Porque escolhe caminhos
Inviáveis à multidão.
Todo rei
É um inviável,
Mas pode ser tocado
Num violão.
Nasce enquanto memória
Do nunca visto.
Sou um tocador de mim mesmo,
Anunciando meu próprio saber-se rei.
Sou aliançado com
Uma valentia desbravadora
De territórios oníricos,
Lógicos e menstruais.
Onírico porque minto
O tempo inteiro
A mim
Mesmo sobre meu
Alvorecer
Enquanto rei.
Lógico porque vejo
E desconfio.
Finalmente,
Menstrual
Porque creio que
Meu erótico mistério profundo
Larga visões
Doces de mãe.
Adiro a uma parede de útero
E ali fico,
Sorrindo e saciando
Meu desejo por afeto.
Depois, o útero escama
E sai
A verdade em cor de sangue,
O sangue visto como desejo de mais vida.
Liberto uma vegetação
Quando penso nisso.
Posso, como estrela sossegada,
Sem obrigatoriedade de brilho,
Repousar.
Ao lado corre um rio-tempo,
Totalmente amoroso.
Lavo nele meu pomo,
Outrora poderoso.
Que face robusta, no espelho.
Pai e pátria sempre se confundiram.
Laçam-me
E pouco reluto.
Meu desejo de calar a mulher,
Como faz meus mais brutos anseios,
Não resiste.
Lavo-me também numa fonte inspiradora,
Liberando-me do ódio vinculado
À exposição da mulher,
Do nu de seu corpo.
A mulher exposta cobre meu pensamento,
Porém veste-me com a fantasia que lhe é própria.
Vejo como gostaria que eu apenas protegesse
A casa.




Pintura: Sílvia Goulart
Poema e foto: Marcus Minuzzi

A conta coletora coletiva