sábado, 3 de novembro de 2012

A Lenta Religação



Gosto de perder, a luta perdida
Me põe bom.
Busco e perco especialmente os salários.
Sou um solitário.
O solitário andou muito,
Feliz, sozinho,
Porque escolhe caminhos
Inviáveis à multidão.
Todo rei
É um inviável,
Mas pode ser tocado
Num violão.
Nasce enquanto memória
Do nunca visto.
Sou um tocador de mim mesmo,
Anunciando meu próprio saber-se rei.
Sou aliançado com
Uma valentia desbravadora
De territórios oníricos,
Lógicos e menstruais.
Onírico porque minto
O tempo inteiro
A mim
Mesmo sobre meu
Alvorecer
Enquanto rei.
Lógico porque vejo
E desconfio.
Finalmente,
Menstrual
Porque creio que
Meu erótico mistério profundo
Larga visões
Doces de mãe.
Adiro a uma parede de útero
E ali fico,
Sorrindo e saciando
Meu desejo por afeto.
Depois, o útero escama
E sai
A verdade em cor de sangue,
O sangue visto como desejo de mais vida.
Liberto uma vegetação
Quando penso nisso.
Posso, como estrela sossegada,
Sem obrigatoriedade de brilho,
Repousar.
Ao lado corre um rio-tempo,
Totalmente amoroso.
Lavo nele meu pomo,
Outrora poderoso.
Que face robusta, no espelho.
Pai e pátria sempre se confundiram.
Laçam-me
E pouco reluto.
Meu desejo de calar a mulher,
Como faz meus mais brutos anseios,
Não resiste.
Lavo-me também numa fonte inspiradora,
Liberando-me do ódio vinculado
À exposição da mulher,
Do nu de seu corpo.
A mulher exposta cobre meu pensamento,
Porém veste-me com a fantasia que lhe é própria.
Vejo como gostaria que eu apenas protegesse
A casa.




Pintura: Sílvia Goulart
Poema e foto: Marcus Minuzzi

Um comentário:

  1. Esse me parece ser daqueles atestados de rara completude que, para posterior alívio, se inflamam no eco da cortina de água da fase pré-nascimento.

    A Lenta Religação que, como um desvulto, pega a espinha dorsal sem deixar receio.

    A moeda pode estar errada, mas o salário é certo e não se perde nem por 'mão-abrida'. Há muito pilar sobre o qual investir [conhe] cimento.

    Só visito esse blog com luva de gala. Em casa (blog) cuidada com os melhores pratos (poesia), só se pisa com a túnica bem pintada.

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