sexta-feira, 29 de julho de 2011

terça-feira, 26 de julho de 2011

O beijo



Desenho: João Júnior

segunda-feira, 25 de julho de 2011

A promessa



A promessa que guia nossos 16 anos de casados, completados hoje.


1.
Rimas em pedras
Finas, de cor;
Sons de rodas de
Carroça, carro de
Boi.
Andanças do retirante
Agudo e ávido.
Senhor do sertão.
Chapéu quebrado,
Laço,
Janela aberta
Do olho sagaz.
Do ouro,
Extraiu seu arco.
Da rocha, seu pó.
Andarilho senhor
Das luzes.
Carroceiro do mato.
Quanto carregas
Em teu apetrecho.
Água, arma,
Milho bom.
Acordar com o sol
Quente.
Dormir com os
Rouxinóis.
Céu e chão
Te carregam,
Pintam teu
Laço.
Erguem teu
Canto.
Secam as tuas feridas
Cruas.
Andante senhor
Carroceiro,
Carregas
A flor com espinhos,
Fere os dedos de peão.
O amanhecer
Te concede
A honraria
De representante
De Deus.
Abençoa e ilumina
A nossa procissão.
Somos teus filhos.
Os filhos do sertão.

Sílvia Goulart





2.
Oro à mãe artista,
E oro por meu povo,
Erê me ensinou a rezar.
Ó musa negra potência antiga,
Ordem musical
Em alimento poético amoroso.
A mãe que me banha
Benze minhas feridas.

A mulher que amo fende
Com ardor meu olho.
O homem que sou olha
O extenso poder do diabo.
Há Deus no meu menino.
Quando era pequeno,
Alegremente amei o gosto oleoso
Da deusa onde erguiam-se
As formas meninas em pelo.

Gosto do teu mênstruo como anel
Que casa nossas escritas
Em nome de Maria.
A arte que orienta o nosso casamento
É profética e arde intensa.

Marcus Minuzzi

Pintura: Sílvia Goulart
Fotos: Marcus Minuzzi

quarta-feira, 20 de julho de 2011

A flor já amanhece


A janela está aberta,
A flor já amanhece.
O sereno que depois vem
Com toda sua bênção desce.

Enfeita um pedacinho de folha
Para amanhã beber água.

No horizonte da vida
Sempre tem uma água pura, abençoada.
Para quem bebe dessa água,
A vida fica mais perfumada.

Poema: A Negra
Pintura: Sílvia Goulart
Foto: Marcus Minuzzi

sábado, 16 de julho de 2011

Nunca fiz coisa igual


Angariei falsos dentes
Para te morder a nuca.
Arranquei pena por pena,
Ave preta, maldita.
Nunca fiz coisa igual:
Matei, bebi o sangue.
Estás enterrado no
Roseiral.


Poema e pintura: Sílvia Goulart
Foto: Marcus Minuzzi

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Pendão de milho














Descobri hoje
Que sou um
Pendão de
Miho,
Vergado,
Franzino.
Mas frutífero.
Crioulo.
Criado em terra santa.
A roça firme
Que me planta
Me segura neste
Chão.
Pendão de milho,
Milharal.
Perfume bom
De terra fresca,
Onde meus olhos
Serão comidos.
Onde meu
Corpo será despido.
Minha fé
Plantada
Em cada grão.
Com graça,
Pisarei
Firme.
Leve como uma
Pluma
Matriarcal
Camponesa.
Fubá,
Cangica,
Curau.
Meu gosto,
Meu olfato
De menina da
Roça
Me trazem
Carinho pelo
Pendão.
O milho
“bota boneca”,
Enfeita
O cabelo
Dourado,
Castanho,
Avermelhado.
O milho
Traz a
Lembrança
Sagrada.
Meu Pai
Benzendo
A fartura.
Minha esperança
Depositada.
Meus sonhos.
Os encantos
Do milharal.

Poema: Sílvia Goualrt

domingo, 3 de julho de 2011

A revolução feminina


A menina ri de meu menino-mundo
E de minha fala sertaneja.
Tenho rotatividade de santo.
Molho loas de Dionísio.
Um moço lógico e boníssimo.

A menina deusa negra
A banhar com fineza mor
Generalista o meu pensar.

A menina bruta com
Uma inteira caligrafia
E bordados míticos.
Celebro o rosto afortunado
Que docilmente ritualizo.

A menina amorosa
O brasileiro oráculo
Ama e lhe perscruta o
Divino anseio.

O ardor que perdoa
A feroz pátria.
A revolução feminina.


Poema e foto: Marcus Minuzzi
Pintura: Sílvia Goulart

A conta coletora coletiva