quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A escravidão permanecerá

"A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil. Ela espalhou por nossas vastas solidões uma grande suavidade; seu contato foi a primeira forma que recebeu a natureza virgem do país, e foi a que ele guardou; ela povoou-o como se fosse uma religião natural e viva, com os seus mitos, suas legendas, seus encantamentos; insuflou-lhe sua alma infantil, suas tristezas sem pesar, suas lágrimas sem amargor, seu silêncio sem concentração, suas alegrias sem causa, sua felicidade sem dia seguinte... É ela o suspiro indefinível que exalam ao luar as nossas noites do norte."

Joaquim Nabuco

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Goiás profundo


Ouro mítico
Alicerce de um Goiás profundo.
A música boa anuncia
O terno roçar
Do antigo boi bondoso
Com a leveza obrigatoriamente
Pontiaguda
Da marcha feminina.




A velha desejada menina,
A forma úmida
De alimentar o cantar
Longínquo
Do onírico moço altivo.
A boa colheita
Do anjo domador de meninos,
Coletiva travessia
Em direção
À nova cadência do mundo.


sábado, 20 de fevereiro de 2010

Ama coralina





Cora Lina
Alinha santos no quintal.
Mãos bentas a esmagar o
Milho.
Sabor de versos
Com água e sal.


















Dama do cerrado,
Cozinha palavras,
Esbarra na alma.
Fabrica mulheres,
Confeita com graça
A dura rotina dessas
Deusas pretas.



sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Passagem



Delicadas rendas...
Fixo em ponto cruz o
Fio amarelo pespassando
As fibras quentes
Cor de laranja.
Recém é manhãzinha.
Floresceu, agora mesmo,
Esta petúnia tão cor-de-rosa
Quanto o meu sonho de moça.
A renda espalhada, jogada no chão,
Vai me conduzindo por caminhos
Onde não sei da dor.




É cedo ainda.
É meio-dia.
A petúnia está murcha,
Mas como cheira bem!
O perfume impregnado no tapete
De rendas, como feitiço, me carregou.
Cheguei aqui.
Entorpecida,
Nem percebi onde foi que machuquei
Meus pés de bailarina.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O mito ovariano que dói em nossas certezas


Olho o corpo e colorido
Desta cidade -
É nem que fosse a minha
Difícil glória!

O paraíso terrestre me inunda.
A glória de reviver os anseios
Domesticados pela face obscura
Do amor.

O vaso olímpico antecede o poema.
A cidade em mim se deposita,
Ora com modos de dama,
Ora com modos de curra.

O vôo antecede o orgasmo.
O gênito ovula.
A cabeça se incendeia.
O vaso me toca.


Olho daqui de dentro, docemente.
O verbo noturno pia como uma ave.
Não se sabe o que ele pensa,
Tampouco se dorme.
Ele é lento em seu transparecer.
Um cheiro de esperma o anuncia,
Livrando homens dos hospitais
E da morte.
Cruzemos todos,
E com alegria,
O mito ovariano que dói
Em nossas certezas:
As mulheres docemente
Nos domesticam.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

A Negra em Goiás



A beleza está onde as musas cantam. Desde o último sábado (13/02), A Negra Ama Jesus vende seus produtos através de parceria com a Arte.Com na Cidade de Goiás.

Religiosamente ama-se como Cora Coralina as pedras daquele lugar.

As vendas acontecem diretamente na loja da Arte.com (Rua Luiz do Couto, nº 4, Centro) ou pela internet, no perfil do Orkut ou na loja virtual.





Na foto ao lado, Sílvia (de óculos) e Marcus (de chapéu), d'A Negra Ama Jesus, aparecem junto com Vanelise e André, da Arte.com. Torcemos pelo sucesso do novo projeto.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Oráculo feminino


Tecer versos coroados
Em rosa cor:
Um leque verde-amarelo
Encobre o olho da
Misteriosa dama.
Agulhas, dedais, linhas
Em carretéis de prata
Bordaram sua novela.

O drama é o carma
Feminino.
A costura é a habilidade da alma.
A colcha quase transparente
Que lhe cobre o corpo.
A rosa cor quase que apaga-se
Diante do espelho trincado em sua
Memória.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

A casa

Entre o mato e o cabelo ela mora.
O ninho em cima do telhado.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Bordados


Sonho entre saias rodadas girar
Só no lento cadenciar da ciranda.

Fechar a roda glorifica a alma fêmea
Com vastos bordados.

Fincados um a um,
Cravejados,
De pedras e plumas.


Um só espetar.
Um só enfeitiçar.
Um só desdobrar.

A roda, menina, incita o recriar.
Sonhamos todas.

Bordamos, espetamos, despertamos
A dor.

Para, depois, a curar.


Pinturas e poemas em instrumentos musicais




O corpo marcha imune protegido pelo ouro brasileiro. O post revela mais uma frente de trabalho d'A Negra Ama Jesus: pinturas e poemas em instrumentos musicais.



Getan (foto acima), do bloco Coró de Pau, de Goiânia/GO, nos solicitou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida.












Poema inscrito na peça: "A estrada ama a brasileira mãe. Há rodas de força Maria no passo desta procissão".





terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Bicos



Árvores encantadas
De sol
Me espinham o riso
Maduro e fértil
De dourados frutos
Acordados pelo vasto
Amor dessa mãe
Terra, que zomba
Da doce cantiga de
Ninar pequenos seres
Enfeitados com bicos
Maternos de sugar
A seiva pura que
Jorra no amanhecer
Aflorado em matas
Virgens.


A conta coletora coletiva