domingo, 30 de maio de 2010

O temor às musas


Aprendi a dedilhar sonhos com dedos de tocar flauta. Me apossei de vozes femininas, que dizem tudo sobre a existência do ser e seus mimosos rancores. Não ofereço o meu dobrado fardo a ninguém. Mas convido a ouvir comigo o som das divinas damas que tocam flauta.

Seria com a maestria de Marias José que poderíamos encantar a dor pela qual passamos nós, as de sexo em flor, as que sangramos o amor pelos homens de nossa vida. Descobri há muito pouco tempo que as musas (minhas parceiras) costuram, usam dedais e enxergam no escuro. Podem apalpar a alma alheia e são terrivelmente poderosas. Tornei-me escrava de seus poderes. Ficando eu, sem querer, terrível também.

Não iluda-se comigo, pois posso sentir o que falta em suas entranhas. E sofro com a tua carência feminina. Sinto até o cheiro que deixa em ti o sexo mal feito. Aprendi com as divinas musas, minhas carrascas e amigas, o que se pode transformar no mundo. E se pode tudo, desde que haja uma boa dose de devoção às divindades. Desde que se saiba receber os sonhos para ampliá-los no inconsciente.


Sílvia Goulart

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