domingo, 27 de março de 2011

Brigam Cristo e Dionísio pela fama de dominar o país


A minha poesia ritualiza o fenômeno do medo:
Rendo graças a uma força abissal.
A briga entre o poder crístico
E o poder de Dionísio
Em mim se processa.
A dor faz a ema gritar encantadoramente,
E fabrica o terno gozo.
A rua não é mais beco.
Brigam Cristo e Dionísio
Pela fama de dominar o país.


Poema e foto:
Marcus Minuzzi
Pintura: Sílvia Goulart

terça-feira, 22 de março de 2011

O perdão para Anibel


A voz quase rouca alucina
O mantra da exclamação contida
Em teu povo anterior.
Quase rocha,
Quase encarnação bendita de tua luz.
A inteira pátria em teu gesto materno.
As idas e findas andanças...
Mescla em teu diário de pobrezas,
Sonhos e fracassos espirituais.
A ânsia por estar em novo território.
A busca da perfeição do ser.
Senhor, me conceda o perdão.
Porque pequei contra tudo
O que bordava o meu caminho inigualável,
Duro, gelado como vento minuano:
Não pousei na relva abençoada que me destes.
Abortei meus dias claros.
Manchei minhas esperanças.
Há em mim um forte impulso, senhor.
Quero ser um átomo cósmico.
Quero ser um arcanjo com vestes brancas.
Quero amar o príncipe da pureza.
Rastejo-me aos teus pés.
Lava-me os cabelos
E perdoa-me as fraquezas da alma feminina.
Impurezas carnais, leitos enxovalhados,
Mortes veladas.
Imploro pelo caminho aberto
Impregnado pelo perfume
Das magnólias na manhãzinha.
Juro, senhor.
Prosseguirei no compasso,
Na cadência,
No ritmo amoroso dos teus tambores.
De lá, ouvirás minha voz.
Verás que bela sou a te cantar
As palavras molhadas em riachos.
Há, meu senhor, dentro do meu ser,
Uma serpente de sabedoria.
Há também uma amazônica
E fértil extensão de florestas.
Há um jequitibá em flor.
Cipó,
Citronela cheirosa de outubro,
Ocimum basilicum.
Plantei o pedaço mais verde em minha alma.
Há também uma coroa de espinhos,
Que me acompanha desde o primeiro dia,
Que me sangra,
Mas que conservo por conta
Das minhas penitências terrestres.
Aceita antes de amanhecer
O meu verso singelo,
A minha doação pela escrita,
O meu encanto de dama,
A porção de beijo e bico materno.
Aceita meu pedaço de carne,
Minhas chagas.
Em nome de tudo que é sacro.
Em nome de tudo que é perdão.



Requinte de sinhá

Bebi o vinho.
Pude ser,
Sentir o efeito da riqueza
Em minhas mãos.
Traços finos,
Requinte de sinhá.
Está em mim esta rainha.
Me visita hoje.
Suas vestes inspiram
Uma grandeza que assombra.
Está em mim.
O poder me assusta.
A nobreza me cabe hoje.
Só espero que o dia amanheça
E traga meu reinado.




Poemas e pinturas:
Sílvia Goulart
Fotos: Marcus Minuzzi

domingo, 20 de março de 2011

A profecia



Serenai vossos desejos
Aprendendo a rezar em um só coro.
Estamos em festa.
A casa é promessa.
A onda é apascentadora.
Lírios serão colhidos.
Bicos dourados, sons da floresta.
Espelhos d’água aguardam seu triunfo.
A dama de honra espera o cavalheiro.
A joia cristalina está guardada na face do anjo.
Rostos americanos assombram o céu do Brasil.
A nova pátria acorda mesclada de ciência e paz.
Serenai vossas fronteiras.
A negra amamenta Nova York.
As torres estão nuas,
O povo será novamente batizado.
Glória aos homens de modos serenos.
Glória aos homens nus e sem sapatos.
Glória às mulheres mulatas, pretas
E mestiças de pouca lábia.
De pouco viço, mal polidas, encantadas.


Poema e pintura: Sílvia Goulart
Foto: Marcus Minuzzi

segunda-feira, 7 de março de 2011

O coro das musas


Ó mina partida de meu país.
Lembro de leituras que veneramos,
Tua mãe e eu.
Lembro do meu brincar com letras e
A vegetação.
A minha beleza tirada da terra
E teu pai capinando a terra.
O teu nome acendendo o coro das musas.


Texto e foto: Marcus Minuzzi
Pintura: Sílvia Goulart

Em homenagem aos 14 anos de Adélia Rosa Goulart Minuzzi

sábado, 5 de março de 2011

Girar é tornar a pobreza um espaço olímpico



A ciranda ordena a lembrança da forma circular.

O ouro que descobrimos artisticamente harmoniza o anseio por amor infinito com a violência e a pobreza da vida cotidiana.

Girar é tornar a pobreza um espaço olímpico, ou seja, divino. A representação do ouro artístico brasileiro está na cultura popular, especialmente no Carnaval.

O mito brasileiro tira da espacialidade tropical uma alegria que torna seu tempo molemente aquoso.



Texto e foto:
Marcus Minuzzi
Pintura em camiseta: Sílvia Goulart



A conta coletora coletiva